quinta-feira, 1 de março de 2012

Amizade que resiste ...

 Então, não seria eu,
voz e forma corretas,
embora de mim partisse
o gesto como resposta
aos gestos que foram teus.
Não era nosso, o momento.
E assim aconteceu
que não ouvimos poetas,
não falamos de amores
antes que o sol surgisse,
nem fizemos de sonhos,
alguma vida a renascer.
Cara a cara nos encontramos,
nos tocamos apenas enquanto,
um corte no espaço do tempo,
abria uma ferida em nós,
roubando-nos, da vida, o encanto.
Quem sabe, ainda nos encontremos
um dia, em algum outro ponto
do caminho onde andarmos,
e nosso olhar, meio tonto,
de ternura e doce surpresa,
talvez nos faça lembrar e saber,
que o que restou, a amizade,
é mais do que sonhamos,
vale mais do que os amores,
não definha nela, o bem querer.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sobrado antigo.

Estou no velho e descolorido
sobrado onde sempre morei.
Vejo no quintal a menina
que brinca sozinha e sorri.
Dentro da casa, a mulher
ardente, apaixonada, criativa,
deveras ocupada, a atenção
dividida, a prover, sustentar,
dando de comer, conquanto
não se restrinja a amamentar.
Limpa, enfeita, organiza,
pinta, perfuma, idealiza
em alegre, febril correria,
a casa onde já habitei
e que lembro com nostalgia.
Mas... não tenho tempo para elas!
Embora o meu tempo finja que agoniza
tenho, ainda, outro lugar para ir,
um espaço por demais conhecido,
onde era preciso ir sempre sòzinha,
para onde é sempre bom voltar.
Subo a escada e as encontro:
- Ah! Vocês, aqui, no meu sótão ?!
Exclamo como quem sabia, e
não se surpreende de as encontrar.
E choramos, e rimos, e dançamos,
e a poeira levanta, nos faz mal,
tossimos, caímos cansadas ao chão,
mas ainda bastante determinadas
a remexer naquele antigo baú,
a procura dos tesouros que guardamos.

Poema: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google images.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Queria não dormir...

Às vezes me lembro,
um dia, como se fosse hoje,
aquela doce quase certeza
de que seguindo pela estrada
veria seu rosto surgir
em meio à sombra ou à luz do sol,
e nosso tempo haveria de vir
então, apesar do medo, seguia,
na esperança de te encontrar,,,


Naquela tarde, ao fechar meus olhos
quase duvidava, já não sabia
se era real aquela imagem
que parecia desaparecer
ou era eu a imaginar.
E num esforço tremendo
tentava manter-me acordada,
eu não queria dormir
tinha urgência de amar...






domingo, 12 de fevereiro de 2012

Numa palavra, te guardei...

Não, não é vã persistência,
tolice ou inocência,
é como ciência, é natural
como nos ciclos de vida
o broto que procura a luz,
o cisne que busca a água,
o rio que nasce na fonte...
quando sinto saudade
te procuro no horizonte.
E esta busca que não termina,
este anseio que não passa,
não sossega porque é vital,
é vida, instinto, verdade,
é crença profunda da alma,
não tem mais nome e
se acalma ao se expressar.
Mas, se não te vejo,
se não posso te tocar,
se não me tocas,
onde irei te encontrar?
Nas lembranças que guardei,
naquilo que, por ti, criei,
na imagem que uso pra te representar,
no simbólico das palavras
que me fortalece e sustenta,
porque é ele, o que te contém.

Foto e poema: Vera Alvarenga 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Nostalgia...

 Nostalgia...sentimento estranho,
é lembrança que vem como um ladrão
que enfia a mão no meu peito
na esperança de roubar de mim,
e os dedos rodopia,
num movimento vago
e toma para si, assim,
o que em mim florescia.
E pega, e tira e sai
levando o que me pertence,
um pedaço meu,
deixando no mesmo espaço,
uma coisa esquisita,
que não entendo, que me fita,
me encara, subjuga e vence.
E é neste momento que sinto
a falta do que nem pude saber,
a presença arrancada
da flor plantada com raízes,
nas entranhas do meu coração.
Quem tem barro nas mãos,
eu, você, nós?
Nostalgia, de quê?
Seria talvez da alegria,
que tomava conta de mim
e que tuas mãos me vinham trazer.

Foto e Poema: Vera Alvarenga


Tudo em paz, tudo bem.

Não, não estou só,
nem é solidão,
apenas sei o que cabe no coração.
Hei, espere um instante!
Lá ao longe,
vejo um aceno?
Alguém chegando
ou indo embora?
Um ponto distante,
um mito, sonho ou lenda,
do outro lado do oceano.
Melhor nem olhar,
melhor não saber,
se for adeus, nem quero ver.
Tá tudo em paz, tudo bem.
E, para dizer a verdade,
estou indo também.
Vou seguindo, levo meu cansaço,
que se desfaz no meu vôo,
quando mergulho no espaço
infinito de tudo o que não fiz,
daquilo que não conheço,
das vitórias que alcancei
ou do que jamais terei,
e mesmo do que tive e mereço.
Agora, apenas sei, o quanto levo de saudade.

Poema e fotos: Vera Alvarenga.


terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A senhora que passa pelas janelas...

Janelas...
Um dia, ela viu um homem
do outro lado de uma delas.
Ele lhe falou de si
de um jeito que não era o dele,
assim disse ele,
apenas um momento em que a dor
o fazia mostrar um lado íntimo da emoção,
uma face que ele acostumara a ocultar.
Ah... Janelas...
Em seu mais secreto mundo,
do lado de dentro de uma delas,
ela, que havia encarado a morte
e tinha sede de um sentimento profundo
que brotasse puro de um coração forte
mas gentil, bebeu daquela lágrima,
sentiu compaixão por ele e por si
que tanto estavam esquecidos do que podiam ser
e inocente pensou que, ali,
nascia delicado e verdadeiro amor.

Vieram os ventos,redemoinho, vendaval,
fecharam-se as janelas e mal se via nelas,
reflexo da luz que sempre nasce das sombras ,
e assim, aquela senhora que os viera visitar,
e numa das mãos sempre traz a morte
e na outra o doce lampejo da vida,
passou por entre as janelas
e voltou ao seu altar.
Porém, nenhuma tempestade assim tão grave
se faz sem propósito definido,
mesmo que de início, não compreendido,
o tempo lhes irá mostrar.
E agora, de cada lado de suas janelas,
na intimidade de seus espaços, e a sós,
ao perguntarem-se porque sofreram, sabem
agora, que morte e vida formam a mesma roda,
e a dor que dilacerou seus corações um dia vai passar.
Só um coração assim aberto pela dor,
compreende, aprende sobre o mais profundo amor,
que nasce da inocência e da compaixão.
E assim, cada um a seu modo e em seu lugar,
fará escolhas e estará pronto para, a si e outros, amar.

Foto e poema: Vera Alvarenga.



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