No Tempo de um recomeço
de um novo ano, de promessas,
que segue indiferente ao que deixa para trás,
que engole os sonhos e todos os ais,
que me marca o rosto e as mãos
e vai inalterado de encontro ao futuro,
apesar de tudo e mesmo assim, encantado...
neste tempo que já não é meu,
do que vou falar que não seja eu?
Do que irremediavelmente sinto e
que a ninguém, nem a mim, interessa mais?
Do que vou falar agora? e pra quem?
Não daquela menina, que desde sempre o tinha
em seu coração ainda que não soubesse,
e o temesse, e o tivesse procurado
e quase o tivesse tocado...
E não falarei mais de mim, que sou meio morta,
desde que meu último e derradeiro sonho
levou com ele minhas asas de libélula e
não posso mais voar!
Deuses, emprestem-me suas asas!
Alguém me escuta, em algum lugar?
Talvez... talvez ainda ouse falar sim,
de outras não de mim, daquelas mulheres
de seus grandes amores e sentimentos, e ah!
parece que já posso sentir o vento nos quintais
fazendo dançar as roupas e os cabelos,
refrescando-me a pele na tarde quente
que me cora a face, o desejo ardente,
e por que não? Por que não?
Falar dos seus sonhos, não dos meus!
porque ainda assim, ao falar de amor,
seja onde for, somos todas iguais...
e na renda de delicadas asas
vejo escrito seu nome e só assim,
sinto o bater das frágeis asas da libélula,
vida pulsante em meu coração...
Foto e poesia: Vera Alvarenga