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domingo, 25 de março de 2012

Em São Paulo...saudades ou nostalgia?

Outro dia comentei com uma amiga, que não costumava sentir saudades dos lugares que deixei, porque já mudei tantas vezes de bairro e cidades, que aprendi a me desapegar. Não tive tempo de concluir que desta vez, começo a sentir falta sim, de algumas coisas que tinha, no tempo em que morava na última cidade, Sorocaba.
Claro, em todas houve algo bom. Florianópolis,  o mar azul e lindo na praia onde caminhava nos finais de tarde, quando tinha tempo. Sensação boa andar descalça na areia, água molhando os pés, vendo aquele mundaréu de mar...na praia quase deserta.
 Esta noite sonhei que estava nadando numa piscina não muito funda, portanto, não tinha medo. Ia livre, como quando nadava em Birigui, sem tantos atrás de mim a forçar-me a um ritmo mais rápido do que aquele que me faz bem. Lembrei saudosa do clube daquela cidade. Piscina enorme e aquecida, cercada de coqueiros, onde eu decidi que aprenderia a nadar, mesmo sozinha. Observava outros e o salva-vidas e aprendi, no meu ritmo. Foi  uma saborosa vitória pessoal.
A gente pode estar numa daquelas fases em que tudo parece nos levar para baixo e então, decide aprender a nadar, soltar o corpo e se manter acima
d´água! Uma forma de vencer, em parte, o desafio.
 Nestes momentos pode acontecer de a gente conhecer alguém que aparece no meio da escuridão e brilha, pra nós, como uma estrela. Por esta pessoa amiga, a gente é capaz de sentimentos que dão sentido à vida. Porque já fomos capazes destes mesmos sentimentos, descobrimos que ainda somos. Nosso olhos e peito se enchem de amor, porque já temos este sentimento dentro de nós.
De algum modo, por mais triste e nostálgico que se torne um dia, é belo e ficará conosco como ternura a nos lembrar que o que sentimos é uma escolha  entre as sementes de nosso coração.
Não se cria a beleza do nada. Já está lá, nós a dedicamos a outro ou a reconhecemos nele, ou ainda, por sentirmos falta de ver seus frutos,  projetamos o desejo de a ver brotar de novo, fora de nós e para nós refletindo sua luz.
Sinto falta de poder pegar o carro e ir, mesmo sozinha, sem depender de outra pessoa que queira o mesmo que eu, para alcançar meu objeto de prazer. Em Sorocaba, após 20 minutos no máximo, eu chegava a um dos três lugares bucólicos, como o Zoológico, ou o clube de campo do SESI, ou o Parque do Campolim, para caminhar com segurança, relaxar e tirar fotos. Isto, aproveitei.Teria chegado aos cinemas em 10 minutos. Isto me escapou! Pois pensava que ir a certos lugares é como fazer sexo. Melhor a dois. Tem mais graça com companhia. Aqui em São Paulo é impossível demorar menos de 1 hora para chegar a qualquer destino. É preciso muita coragem para ir sozinha, e sorte para encontrar lugar para estacionar! Ter companhia já seria exigir demais!.rs..Então, não vou, ou não há onde ir.
Preciso descobrir como me encaixar aqui, voltar a meditar para recarregar baterias. Minha querida cidade natal, é uma cidade social mas solitária, rica e pobre, onde não é seguro andar sozinha num parque ou à noite, para se ir ao teatro, embora haja muitos.Cheia de contradições. É necessário que eu reaprenda o mapa, vá de carro a um estacionamento, para então aprender a andar de trem e depois de metrô, se quiser fazer um simples curso de fotografia! É uma cidade para jovens. Demora-se até 1 h. e meia para se chegar ao médico, mesmo que haja muitos.  Nunca pensei voltar e se o fiz, não foi por saudades da vida cosmopolita, mas acompanhando família/netos, estes sim, uma motivação forte. Então, ainda preciso de tempo para me acostumar com isto. Sinto saudades da liberdade de ter ao alcance o contato com uma vida mais natural - aqui, o natural é passear no Shopping ou fazer compras! Que bom estar aposentada e poder me adaptar aos horários menos piores para o trânsito. A maioria aqui, não tem esta escolha. Me acomodei ao meu sossego,embora não goste de isolamento. Por isto gostei de Sorocaba, é um bom meio termo. Talvez deva aprender agora a andar esbarrando na multidão! Antigamente, esta era uma cidade onde as pessoas não podiam perder tempo, hoje, perdem muito tempo no trânsito e aprenderam a ter paciência. Eu, preciso aprender a nadar mais depressa, se não quiser me afogar, ou passar a fazer musculação!
 Ainda bem que valorizei o que pude, do que tinha de bom, a cada tempo. Agora, é buscar adaptar-me.
Sem dúvida, pior do que sentir falta de coisas é sentir falta de alguém, que antes representava uma promessa, ponte, apoio, ou companhia e que de repente podemos nunca mais ver, ouvir, ou ter notícias.
Dizem que sentir saudades é algo mais leve do que nostalgia. Esta traz tristeza e abatimento em graus mais ou menos profundos, causados pelo afastamento de coisas ou pessoas que a gente ama e pelo desejo de as tornar a ter/ver.
Se é saudades ou nostalgia e se isto depende da profundidade do sentimento,não importa, só sei que às vezes, esta falta, eu a sinto lá nos ossos... profundamente, portanto. De uma pessoa, não de coisas.Coisas a gente substitui. Pessoas, acolhe e guarda na alma. E sente nostalgia, que vem como ondas do mar. Diferente, para cada um. Diferente em cada praia. Não era hábito meu sentir nostalgia de pessoas, do passado. Este sentimento me ligava a um amor idealizado, completo e belo, talvez divino e do qual, temos sorte em ter amostras. E as tenho.
"Se sinto falta, é porque já fui feliz com algo ou alguém que me fazia bem, e hoje não tenho ao alcance das mãos."
"Se tenho profundas saudades de você ou de como me sentia em sua presença, é porque já conheço este intenso sentimento."
Hoje, acordei saudosa de coisas simples e boas, e depois me aprofundei na nostalgia de um sentimento bom...de qualquer forma, olho ao redor e espero encontrar aqui, novamente um lugar onde possa de vez em quando me sentir "em casa", e enquanto isto não ocorre, pego um chocolate e um livro, e vou saborear cada um, do jeito que mais gosto.... feliz por poder fazê-lo.
Fotos e texto: Vera Alvarenga
E uma música linda com Vanessa da Mata... "Amado".

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