Estavam frente a frente.
Coragem, não sentia
de dar mais um passo...
só mais um passo a distância
que, entre eles ainda se fazia.
Olharam-se nos olhos.
Ela corou, encabulada.
O que teria a oferecer-lhe
além da casca que a cobria?
Ele a reconheceria?
Se fossem outros tempos,
talvez, impetuosa ousasse atravessar
desertos em busca desta fonte e,
segura, por saber-se desejada,
nos braços dele se jogaria.
Agora, de nada mais sabia.
Justo quando se quer mais do amor
os sentidos parecem adormecidos!
O medo a arrebatou.
Não suportou encará-lo,
não por não querer amá-lo,
era da sede, o medo que sentia.
Como mostrar-lhe quem era
numa face que o tempo marcou?
Diante dele sentia-se menina
mas só a alma livra-se do tempo,
no espelho não se reconhecia.
A consciência de sua fragilidade
a obrigava à tortura de esperar
que fosse ele a saber que dos dois,
era o que primeiro deveria ousar.
Ele compreendeu e se aproximou
e, no mesmo instante, ela se moveu.
Desfez-se o medo dos corações.
Não se queriam perfeitos, nem ilusões!
Queriam-se assim mesmo, fragmentados,
vividos,sofridos ou marcados,
carentes de amor, cientes da verdade
que não segue a lógica da razão
mas da necessária compaixão que abraça
os que se descobrem imperfeitos.
Cruel e libertador este encontro de amor!
Na pele e no toque se reconheceram
e aceitaram-se em todos os limites
de sua recém descoberta humanidade.
Foi no espaço mágico e indescritível
entre a mente e o instintivo
que eles assim, se encontraram, e se amaram
como se o tempo para eles se curvasse
e da luz de um doce encantamento
permitisse que ali fosse feita a eternidade.
poema: Vera Alvarenga
foto: retirada do blog "diários de bordo" - não continha informação de autoria.