E um homem... se fez anjo.
Ele estava lá,
sozinho, pensando em como continuar, qual seria o próximo passo a dar.
Sentia-se
desolado com a própria incapacidade de decidir sobre o rumo de algumas coisas,
com sua impotência diante do imprevisível, com a impossibilidade de controlar o
bem e o mal, a dor e o medo. O que poderia dizer para dar a ela um pouco de
esperança, força ou fé, diante de tão grande desafio? E ela parecia tão
pequena...e frágil agora, depois das primeiras, corajosas mas frustradas
tentativas em busca da própria cura.
O que poderia
fazer para devolver a si próprio e ao seu coração a tranquilidade dos dias que
já iam longe no tempo? Aqueles dias se foram para sempre, junto com a juventude
e a inocência dos que, sem pressa, pensam que o tempo lhes pertence e permitirá
que as alegrias se perpetuem na vida. A vida, agora ameaçada. Não apenas a vida
dela mas, igualmente a sua, em conseqüência.
Nada e ninguém
era para sempre!
De cabeça
baixa, no escuro da noite, deixou que algumas lágrimas rolassem de seus olhos.
Sensibilizara-se por ela, mas as lágrimas eram também por sua própria história.
Ninguém veria. Ali, sozinho, estava livre para chorar, sentir o assombro diante
de sua insignificância. Não tinha tanto poder como imaginara. Não tinha aliás, nenhum
poder . Sentiu certo alívio por desarmar de si mesmo a postura de quem nunca
perdera o equilíbrio. Sentiu-se um pouco tonto. Sentou-se. Se continuasse de
pé, cairia de joelhos, numa humildade que não reconhecia em si.
Respirou fundo.
Entregou-se.... não mais ao sofrimento, nem ao desânimo, nem à saudade, apenas
à certeza de que não podia controlar tudo. De cabeça baixa, quis orar. Não
sabia quais palavras seriam as mais adequadas, então apenas as sentiu. Assim em
silêncio, orou a um Deus que nem sabia como era, um Deus só seu, que talvez nem
existisse, ou nunca o ouvisse...
Este Deus tinha
de ser grande agora. E ele lhe pedia por inspiração. Quem o visse daquela
maneira, por aquele ângulo, juraria que neste momento, de suas costas
soltavam-se quase transparentes asas, que se abriam.
Após alguns
minutos, respirou fundo e levantou-se, como se estivesse mais leve. Uma idéia o
animou. Já sabia o que fazer... não podia controlar o presente, nem os fatos,
nem o medo dela, nem curá-la, mas podia levar-lhe uma palavra, a idéia de um
sonho pelo qual lutar, um sonho que a faria desejar também ter asas, algo para
crer em si.
E assim,
caminhou ao encontro dela, levando consigo um desejo, uma luz. Se ela não
tivesse asas, este desejo certamente a sustentaria, para além de seus limites!
E assim, aquele
homem foi em direção da mulher e como um pássaro ou anjo, e sustentado por uma
lembrança sentiu-se forte, emprestou-lhe suas asas, porque ela antes, já fizera
isto com ele, num dia não muito distante daquele ....
foto retirado do Google images
Texto: Vera Alvarenga