A vida precisa de magia e da nossa própria permissão para
sermos felizes, acalentando sonhos que fazem parte do deixar viver em nosso ser
mais íntimo, nossos desejos instintivos, reflexo da busca de uma felicidade e equilíbrio
que nos deixa em paz, leves e bem.
Às vezes a gente
esquece disto - do direito de juntar com carinho os nossos pequenos pedacinhos e
de os montar de novo e de novo, quando necessário, como num mosaico lindo de nossa alma, que precisa renovar-se em nova paisagem criativa. Isto nos fará de novo brilhar
com a luz do sol ou das estrelas, e nos sentir curados, porque não é possível ir para o deserto e lá viver eternamente,mais do que o tempo necessário para lembrarmos do que somos.
Eu finalmente compreendi...
...que por amor, interiorizei o espírito do pássaro dourado, o que vinha me visitar e que me despertou o desejo de sair à luz do sol. Não deste sol do mundo, mas o do ser. Ao fazer dele parte de mim, aconcheguei em meu peito uma ilusão, diriam alguns.
Mas está aí a magia do sonho e do amor! O amor que nele está porque nele coloquei, neste encontro na intimidade do meu ser, permite que sejam mostradas as nossas faces vestidas do sonho, sem pudor ou qualquer sentimento de inadequação, e assim podemos voltar a ser naturalmente, o que somos. Torna-se possível voltar a gostar de ser o que sou. Encontro os meus pedacinhos que julgava perdidos e construo-me lentamente de novo, com a certeza de que vivo ainda, em mim. Trago-o agora em meu coração e ele é meu. Às vezes, quase o perco novamente e temo não ser capaz do que era, mas então percebo como é importante que eu o encontre...o amor. Dele, que me traz através do meu sonho e na minha intimidade a lembrança de minha força instintiva, cuido com carinho, porque enquanto estiver dentro de mim, não me deixará esquecer o que sou e porque ainda estou aqui. E estou aqui ainda, para amar. Estando no meu íntimo, me empresta o sentimento de me saber inteira. E com ele, vivo em segredo o meu ser. E ele ainda vive comigo, a despeito de tudo, num lugar entre a lógica e meu instinto de sobrevivência.
Penso que nos sentimos perdidos quando não sabemos onde colocamos o amor que por vezes, ressurge nas asas de um pássaro dourado como o próprio desejo de viver o que ainda podemos ser. E mesmo que, do outro lado a realidade não possa concretizar nosso sonho, vivê-lo em nossa intimidade pode fazer a diferença entre estar vivo novamente ou não.
Texto e fotos: Vera Alvarenga
a foto do pássaro é tirada de uma imagem da TV Cultura.