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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Um adeus, a cada dia...

Havia noites em que fechava os olhos,
noutras, nem disto precisava e
penetrava, no escuro , à procura
daquele sinal, daquela luz
que vinha dele, que era ele
e a enchia de alegria e ternura.
Lá, onde antes se encontravam,
ia em busca de sua presença,
como quem na praia caminhava
por léguas e sem destino,
sentindo no corpo a temperatura
elevar-se e a água salgada
nos pés, sem poder dela beber.
Ia com sede portanto,
tentando conter o incontido desejo,
de ver o rosto que aprendeu a amar
num sonho que aprendeu a sonhar,
de por ele sentir-se abraçada,
ouvir sua voz dizendo a carícia
que tanto adorava ouvir
no jeito dele de a chamar,
como se dos lábios recebesse um beijo.
Ia. Ainda inocente, insistia e buscava,
como quem quisesse a cura
para o mal que levava à morte
mas que aprendera a aceitar,
por um bem que indiferente
sumia no horizonte, como o sol
que no fim do dia, invariavelmente,
se deita lá  no fundo do mar.
Às vezes, sentia vontade de gritar!
Gritar o grito dos dilacerados
pela saudades que rasgam os sonhos,
pelos desencantos que secam as árvores,
pela tristeza dos desencantados.
Em seu velho corpo de mulher,
morava uma jovem apaixonada
vestida com a alma de uma rainha,
que seguia tecendo o destino
e tentava aprender,
a difícil arte de envelhecer.
 

Foto e poema: Vera Alvarenga

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

" Um anjo visitou-me esta noite..."

Um anjo de púrpuras asas
visitou-me esta noite,
cobriu-me com seu abraço e
na flauta, tocou o compasso
de uma canção de ninar.
E eu, que sentia o peso,
da dúvida em meu coração,
me permiti embalar,
naquela doce canção e
pedi, orando baixinho :
- " Anjo, se em teu juízo perfeito,
pensas que causo algum mal,
mostra pra mim o caminho,
me perdôa, me dê um sinal,
que seja claro e preciso
pois que sonhei ter na vida,
aquilo em que acreditei
e não foi verdadeiro,
com quem muito amei..."
Olhou-me ele com pena,
da frágil humanidade que tenho,
que nos faz com tal empenho,
justificar a procura
do amor e da ternura,
que valoriza a vida.
E antes que eu dormisse,
já cansada da minha aflição,
me disse: -" Estás perdoada!
Eu conheço o teu coração! "

Poesia: Vera Alvarenga  -(inverno 2010)
Foto : imagens Google.

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