sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Sobrado antigo.

Estou no velho e descolorido
sobrado onde sempre morei.
Vejo no quintal a menina
que brinca sozinha e sorri.
Dentro da casa, a mulher
ardente, apaixonada, criativa,
deveras ocupada, a atenção
dividida, a prover, sustentar,
dando de comer, conquanto
não se restrinja a amamentar.
Limpa, enfeita, organiza,
pinta, perfuma, idealiza
em alegre, febril correria,
a casa onde já habitei
e que lembro com nostalgia.
Mas... não tenho tempo para elas!
Embora o meu tempo finja que agoniza
tenho, ainda, outro lugar para ir,
um espaço por demais conhecido,
onde era preciso ir sempre sòzinha,
para onde é sempre bom voltar.
Subo a escada e as encontro:
- Ah! Vocês, aqui, no meu sótão ?!
Exclamo como quem sabia, e
não se surpreende de as encontrar.
E choramos, e rimos, e dançamos,
e a poeira levanta, nos faz mal,
tossimos, caímos cansadas ao chão,
mas ainda bastante determinadas
a remexer naquele antigo baú,
a procura dos tesouros que guardamos.

Poema: Vera Alvarenga
Foto: retirada do Google images.

3 comentários:

  1. Vera, eu me identifico muito com voce.
    Textos lindos comos este me deixam emocionadas.
    Eu fui até o mesmo sobrado, porque, sabe, eu tinha um quartinho só para brincar que ficava num sobradinho da casa antiga. E até hoje a minha mente vaga até la, recordando o que hoje eu me tornei.

    Besos.

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    Respostas
    1. Na verdade Sissy, em minha vida toda só morei num sobrado uma vez, por 1 ano, mas nossa casa, aquilo que somos, o que sou e carrego comigo,pode ser um sobrado com alguns andares,vários personagens em cada fase.Não acha? Eu gosto do sótão, tem algum môfo, mas muitas lembranças no baú! Tem uma velha lá também,uma bruxa ou sábia, fadas e talvez um chapéuzinho vermelho( esta, a Kit mell vai gostar! kkk...), uma princesa, uma heroína, uma menina medrosa...rs..No coração da casa tem um mestre,anjos próximo à janela e, raramente umas senhoras excessivamente críticas ou preconceituosas querem entrar, mas não dou guarida. Será que vem lá de algum porão do bairro ao qual pertencemos? Às vezes a gente esquece de cuidar dela,limpar o sótão, rever lembranças que nos fazem dançar e sair de lá disponíveis para a vida.
      E a sua, como é? Nem precisa responder.A gente demora uma vida toda conhecendo a própria casa! Gostei que te animei a visitá-la. Beijos.

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  2. Hoje vim por estes lados das tuas páginas e as imagens que postas aqui são cheias de delicadezas e ternuras. Amei, Verinha!!!
    Abraços

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